quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

MEL, UM ALIMENTO QUASE PERFEITO




          Os açúcares são quase sempre tidos como vilões da boa forma, do coração, da diabetes. Isto porém, não é aplicado ao mel. Utilizado com moderação, o mel presta um grande auxílio na cura do sinusite, dores na garganta e outras enfermidades, justamente em razão do seu lado doce.
          O mel tem por volta de 80% de glicídeos, sendo 40% de frutose, 33% de glicose, 5% entre sacarose e maltose e 1,55% de polissacarídeos, conforme a CBA (Confederação Brasileira de Apicultura). Os outros 20% são água, sais minerais, proteínas, aminoácidos e vitaminas diluídas (em sua maioria do tipo A, que auxiliam na boa saúde dos olhos entre outras, e do tipo B.
          Ao contrário do que se poderia pensar, não é das vitaminas que vêm as propriedades medicinais. Devido à alta concentração de açúcar, o produto tem ação antimicrobiana, especialmente bactericida. Ao ingerirmos mel, essa concentração elevada "rouba" toda a água, fazendo os micro-organismos que alí estão perderem líquido e morrerem "secos". Na garganta, no estômago e no corpo como um todo, isso atua como um antibiótico tópico.
          Em paralelo, a principal característica nutricional do mel - a alta injeção de energia proporcionada pelo açúcar - traz benefícios complementares. "Por isso existe o senso comúm de se tomar mel quando a pessoa está gripada" como indicado pela bióloga e geneticista de abelhas Gislene Almeida Carvalho Zilse, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. "Há uma ação antibiótica ao mesmo tempo em que a pessoa recebe uma injeção de energia"
          A dica para ter um efeito mais positivo quando se está doente, é não tomar grandes quantidades de uma vez só, mas sim ingerir pequenas porções, de tempos em tempos, fazendo o mel ser uma presença constante no organismo, sem abusardo açúcar que ele contém. É recomendável intercalar de 30 em 30 minutos uma colher de mel.
          A cada colherada, o mel age eliminando as bactérias e injetando energia no organismo. É como se fosse feito um tratamento homeopático. A mesma ação antimicrobiana contribui para melhorar a cicatrização, não que o mel tenha características cicatrizantes, mas auxilia no processo justamente por evitar a proliferação de micro-organismos e por nutrir melhor as células, em função da já mencionada injeção de energia.
           Restrições
           Apesar de todas as vantagens, é importante prestar atenção em dois efeitos possíveis decorrentes da ingestão do mel. Um deles está ligado àquela que é a sua maior vantagem, o açúcar. Não é porque o alimento é de origem natural que pode ser consumido sem critério. Diabéticos e pessoas que tem restrição ao consumo de açúcar devem evitar a ingestão em excesso. O ideal é procurar orientação médica sobre as quantidades indicadas de acordo a cada caso.
          O outro cuidado, ainda mais importante, está relacionado às crianças menores de 2 anos. Há registros de transmissão de botulismo infantil através do mel, uma vez que nesta faixa etária o sistema imunológico não está completamente formado, quando pode ocorrer o risco de contaminação pelo Clostridium botulinum, bactéria que pode estar presente no ar, no solo, na água e nos alimentos.
          "Crianças desta idade não tem a flora intestinal totalmente formada, permitindo o alojamento deste micro-organismo no seu sistema digestivo, o que pode causar a doença" como indicado pela biomédica Adriana Valim Ferreira Ragazani, que defendeu tese de doutorado justamente sobre a transmissão de botulismo infantil pelo mel.
          O botulismo caracteriza-se por fraqueza muscular, dificuldade no controle do movimento da cabeça e dificuldade de respiração, entre outros sintomas. A recomendação da ANVISA é não oferecer mel artesanal a crianças menores de 1 ano. Podendo claro estender o prazo e evitar oferecer mel a menores de 2 anos.
          Adultos, de acordo com Adriana, não precisam se preocupar. "O botulismo em adultos ocasionado pelo consumo de mel, só poderá acontecer se este adulto tiver a flora intestinal comprometida por alguma doença imunológica"
          Tipos de Mel
          As abelhas utilizam o néctar das flores na produção do mel, através de enzimas salivares neste processo. O mel é dividido em 2 classificações, o produzido pela Apis melifera, a que tem ferrão, introduzida por colonizadores portugueses, e o produzido por abelhas sem ferrão, nativas do Brasil, e muito presentes na região norte do país.
          A Apis melifera produz um mel de coloração mais acastanhada, de maior viscosidade e com acentuada concentração de açúcar. No caso das abelhas nativas, sem ferrão, o mel produzido tem coloração mais amarelada, um pouco mais líquido, menos ácido e com aproximadamente 70% de concentração de açúcares. Esse tipo mantém mais a origem floral, conservando melhor a concentração de vitaminas e sais minerais existentes no néctar.
          A Apis melifera produz seu mel em plantações de árvores (normalmente monoculturas) separadas para tal, principalmente eucaliptus e laranjeira. por ser nativa, a abelha sem ferrão é geralmente a que faz o chamado mel silvestre, a partir de qualquer tipo de flor. Como essas flores têm mecanismos próprios de defesa, armazenados no néctar, o mel processado com base nelas preserva também esses compostos.
          Muitas pessoas tem trocado o açúcar - refinado, orgânico, mascavo - pelo mel, atraídas pelas qualidades que este produto tem, em comparação com o alto valor calórico e a baixa quantidade de nutrientes do outro alimento. Sem dúvidas uma substituição positiva. Mas o problema é como esta substituição é realizada, pode ser substituída, mas não pode ser consumida á vontade.
           O mel tem carboidratos diferentes dos encontrados no açúcar, o que faz com seu poder de adoçar seja menor. Por esta razão usa-se uma quantidade maior para adoçar alimentos. Só que, embora tenha vitaminas e sais minerais, ela pode ter efeitos semelhantes ao açúcar em termos calóricos.
          Diabéticos tambem devem fazer a substituição com parcimônia. O açúcar refinado, formado principalmente por sacarose, eleva a glicemia com maior velocidade. O mel tambem aumenta o nível glicêmico, mas a maior parte de sua composição é à base de açúcares de melhor qualidade. Assim o mel é mais seguro para diabéticos que o açúcar. Outra vantagem do mel, é que favorece o ganho de massa muscular, devido à sua rápida absorção pelo organismo. Pode ser utilizado após a realização de exercícios físicos, pois sua incorporação nas fibras musculares é muito positiva.
Foto: Subbotina Anna / Shutterstock            
Ref.: Maria E. Mattar